Élvio
Para Gal Costa, Clara Nunes e todas as passistas do Império Serrano

Não estava preparado para as dores de ano. Nas areias novas salpicadas de cores e barulhos, em meio à chuva que lavava um ano modesto porém correto, semeou ali todas as suas conquistas, seguro de que o Sol daquele verão assegurariam a correta germinação.
Três da madrugada: o gosto de uma pilha de livros, o cheiro de lembranças que sequer reconhecia como sendo suas e a estranha forma geométrica do amontoado de roupas sujas a sua frente causavam-lhe uma espécie de mágoa antiga.
Secou-lhe a garganta e os sentimentos. Rasgou-lhe o fio cortante do silêncio como uma torrente de palavras. Apagou-se a tênue chama dos lençóis, assim não mais que derrepente.
Veio, enfim, seu não. Um não nascido de outro não. Uma recusa à recusa, uma espécie de manifesto contra tudo aquilo de que se acreditava protegido.
Menos de 24 horas depois, uma torrente esquizofrênica de lágrimas irrompeu-lhe o rosto de modo a fornecer qualquer espécie de irrigação às sementes plantadas na praia em dia de ano, que ainda jazem latentes - ele crê - à espera do primeiro rasgo de verde a vencer a esterilidade grã daquele solo em que depositou todas as suas promessas de alegria.

Copacabana, no dia 01 de abril de 2012 às vinte-e-uma-horas-e-alguns-minutos.
2 Responses
  1. Este comentário foi removido pelo autor.

  2. Esperamos em DELS que isso não seja 1º de abril. Que as lágrimas levem todo o encosto. Em nome de Gsuis, Amém.