Élvio

Foto de Heron Barbosa


Diálogos de uma terça à tarde, no terraço do telhadinho azul em São Conrado.

Bethânia: Cícera, como é esse negócio de blog? Sou tão tabaroa que nem sei.
Cícera: vixi, Thaninha, tem um tal de blogspot aqui que é só vc criar uma conta...
Betha: Conta? Complicado demais...
Cícera: É nada, mulher! Olha aqui, rapidinho...

Passam-se cinco minutos e o perfil está criado.

Betha: Vixi, que lindo... E será que d. Canô, lá em Santo Amaro da Purificação, vai conseguir acessar?
Cícera: Xá de ser boba, mulé, até o Élvio, lá em Beauvais, lá na França, vai acessar! Até a Fernandinha em Lisboa!

Telefone toca.

Cícera: Betha, é dona Ana de Hollanda no telefone, queria falar com a senhora sobre um projeto aí, entendi direito não, parece coisa fina.
Betha: Diga a ela que não estou, estou ocupada com meu blog. Você sabe bem que eu preciso de concentração, não sabe? Vamos, desligue, ande!
Cícera: Mas Betha...

Cícera desliga o telefone.

Cícera: Então, como eu ia dizendo, qualquer pessoa, em qualquer canto do mundo, poderá acessar o blog, de graça. Melhor de tudo é que não precisa de parafernália, é tudo bem simples, como você gosta...
Betha: Que beleza (roda os braços em gesto dramático). Mas e pra falar? A tal da hebecam? É hebecam que fala, né? Quero declamar umas poesias, sabe... O mundo precisa de poesia!
Cícera: Que nome lindo... Me dá 1 minuto que vou colocar como título do seu blog. Sente ai, mulé. Pegue um livro, vamos.. Pegou? Não, Paulo Coelho não é literatura, nem sei como isso foi parar na estante. Tem que jogar no lixo, viu?
Betha: É presente de fã, do sarau... Eu acho que seria um modo bacana de homenagear o Obama, aquele presidente que usou Paulo Coelho também num discurso lá no palco do Municipal. Um dia recebi um prêmio, lá, Cícera, vc sabia? Fui homenageada numa noite belíssima, calorosa que só vendo.
Cícera: Me lembro sim, mas escolhe outro. Olha esse livro que beleza... de d. Adélia Prado... É bom pra variar, né? Clarice já deu no saco.
Betha irritada: Clarice é rainha!
Cícera: Mas em tempos de república, é bom agradar a todos, né? Vamos lá? Não precisa escolher poesia. Abre uma página qualquer e leia...Tá vendo aquela luzinha vermelha ali, piscando? Pronto, tá gravando. Agora fala, mulé... Fala como só vc nesse Brasil sabe.

Betha declama d. Adélia

Cícera desliga a webcam: Se quiser repetir, Betha, é só fazer tudo de novo.
Betha, sorridente: Que beleza, a internet (bota a mão no queixo, com cara de matuta maravilhada)
Cícera: Amanhã a d. Renata não vem pro almoço? Ela poderia até declamar com a senhora, uma coisa bem descontraída...
Betha: Verdade, ligue pra Renata e diga que ela vai fazer! Eu to mandando e ela vai fazer!
Cícera: Pode deixar. Agora é só esperar um pouquinho para carregar o vídeo... Pronto, como a internet da senhora é rápida, já posso postar.
Betha: Confere pra ver se tem erro ai, mulé!! Tá tudo certinho? Não é porque é de graça que a gente tem que esculhambar o troço...
Cícera: Mulé... Em tempos de Word é só clicar em corretor ortográfico e ver se aparece palavra com risquinho vermelhinho embaixo...
Betha: Apareceu nada não...
Cícera: Então tá tudo nos conformes. Pode? ENVIAR

Uma hora depois, milhões de acesso.

Custo da operação: duas hora e meia do seu tempo ocioso.

Fim
2 Responses
  1. estela rosa Says:

    olhe... acho que ela podia mesmo ter passado sem essa do blog. mas vc minimizou o sofrer com essa crônica. melhor imaginar que as coisas são assim.


  2. Pacha Urbano Says:

    A história toda não poderia ter sido assim?
    Por outro lado, penso, uma artista (diva, eu diria) merece um site melhor do que um blog no Blogger ou Wordpress e tudo o mais.
    Entretanto, orçar este projeto em 1,3 milhões?
    Sério, isso tudo?
    O mundo afinal não precisa de mais poesia?